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LIVE DISCUTE ESTRATÉGIAS PARA COMBATER O ASSÉDIO NA UFSJ



Na noite da última quarta-feira (11), representantes da ADUFSJ, do DCE, do Sinds-UFSJ e do Coletivos Severinas promoveram uma live para dar continuidade a série de debates “Universidade que queremos”. Desta vez, o tema abordado no debate virtual foi o assédio em ambiente acadêmico, a ineficiência dos canais de denúncias e a ausência de acolhimento. Os participantes do debate apresentaram alternativas para melhorar esse cenário na UFSJ.

Isabela Saraiva de Queiroz, professora do Departamento de Psicologia e coordenadora do Núcleo de Estudos em Gênero, Raça e Direitos Humanos (NEGAH) da UFSJ é também uma das coordenadoras do projeto “Idas e Vindas”, que busca mapear a rede de atenção à violência contra a mulher em São João del-Rei.

Na live, ela ressaltou a necessidade de que as universidades se organizem para instituir ouvidorias para atender casos de violência contra a mulher de forma institucional. A professora destacou também que esse tipo de agressão precisa deixar de ser encarada como algo extraordinário e que ocorre somente em casos extremos. Para ela, a violência contra a mulher é um padrão relacional construído pela sociedade machista em que vivemos.

“Na nossa sociedade, os homens aprendem quem deve ser explorado. E, na universidade, como em todos os espaços sociais, isso também ocorre. Então, é importante que nós, na universidade, nos organizemos para lutar contra isso”, defende a professora.


Confira aqui a live completa:

Isabela Queiroz lembrou que o assédio sexual, uma das formas de violência contra a mulher, não ocorre apenas de forma física. Segundo ela, comentários com teor sexual indesejado, cantadas ofensivas e abordagens agressivas também são formas de assédio, e muitas vezes não são entendidas assim socialmente.

A professora apresentou dados de uma pesquisa realizada pelo Instituto Avon que mostrou que 1.823 estudantes universitárias disseram já ter sofrido assédio sexual em ambientes universitários e 48% das entrevistadas conheciam alguém que já havia passado por algum tipo de violência.

“A universidade que eu quero é a universidade que tenha um espaço adequado e seguro para as mulheres poderem apresentar suas denúncias, serem acolhidas devidamente do ponto de vista psicológico e jurídico e que essas denúncias possam ser investigadas, tratadas e os agressores serem punidos”, declarou.

De forma prática, a professora sugeriu a criação de uma comissão institucional responsável pelo atendimento integral às vítimas diretas e indiretas de violência contra a mulher, por meio de um serviço de atenção específico para esses casos.


Muita burocracia, pouca solução

Já Rafaela Renó, estudante de psicologia, integrante da Liga Acadêmica do Cuidado Integral à Saúde da Mulher (Lacism) e do coletivo Severinas, chamou a atenção para a ineficiência do trabalho realizado pela Ouvidoria Geral da UFSJ em casos de violência contra a mulher, destacando que os profissionais que lá atuam têm muito trabalho, que as psicólogas são poucas e não dão conta de oferecer o acolhimento adequado.

Segundo a estudante, é muito difícil que uma aluna vá até a ouvidoria, se exponha ao denunciar, por exemplo, um professor que possa vir a persegui-la no futuro. “São poucos os casos que são exemplos, que deram certo, que passaram pelo processo de denúncia de uma forma adequada”, expõe a estudante.

Para ela, o que se tem atualmente é um cenário de muita burocracia e pouca solução dos problemas. Utilizando o exemplo da Ouvidoria Feminina da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), Lívia também ressaltou a necessidade de uma ouvidoria especializada em casos de violência contra a mulher na UFSJ.


Experiência da UFOP

Outra participante foi Flávia Souza Máximo Pereira, advogada, doutora em Direito do Trabalho e professora adjunta de Direito Processual do Trabalho e Direito Previdenciário na UFOP e coordenadora do projeto de Ouvidoria Feminina na instituição.

Em sua participação na live, Flávia falou sobre a experiência da Ouvidoria Feminina, que está ligada à extensão universitária e é o órgão oficial do recebimento de denúncia de violência contra a mulher no ambiente universitário. A professora ressaltou que o projeto trabalha com o conceito de mulher plural, ou seja, mulheres cis e trans são contempladas pela iniciativa.

“Nossa principal vertente de atuação é acolher mulheres em situação de violência no ambiente universitário. Então, nós atuamos na seara administrativa, com requerimento de instauração de processos administrativos ou sindicâncias, mas paralelamente nós também atuamos em situação de violência na comunidade (externa)”, conta a discente.

Desde 2019, a Ouvidoria Feminina da UFOP já ouviu 35 mulheres, instaurou um processo administrativo contra um professor acusado de assédio sexual e possui dois pedidos de abertura de processos administrativos pendentes.


Demandas estudantis

Representando as estudantes da UFSJ, a live contou com a participação do Diretório Central do Estudantes (DCE) por meio das falas de Lívia Gimenez, graduanda do curso de Letras - Língua Inglesa e suas Literaturas - e delegada dos cursos de Letras no DCE/UFSJ e da presidenta do DCE e estudante de psicologia Raquel Camacho.

A delegada do DCE pontuou que a carência de apoio à vítima dentro da universidade aumenta a cultura de estupro e assédio. “Uma das formas de contribuir com a diminuição dos casos seria discutir de forma ampla o assunto na universidade. Isso seria uma forma de tentar reduzir o número de casos dentro da universidade e na sociedade como um todo”, avalia.

Já a presidenta do DCE considera a Ouvidoria Feminina da UFOP um projeto inovador e sinalizou a importância da UFSJ possuir um espaço institucional que combata a violência contra a mulher na universidade e também nos espaços que envolvem a comunidade acadêmica, como as repúblicas.

“Mesmo que ocorra fora da universidade, quando a vítima volta, ela convive com o agressor dentro da sala de aula. E assim a violência continua. Então é importante a gente ter formas de se defender e punir esses agressores”, avalia Raquel.


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